O Comendador Joaquim Pereira da Silva era um homem rico e
empreendedor, nos idos de 1900 e qualquer coisa a mais. Estava estabelecido em
Lisboa, mais precisamente no cais do porto, onde seus armazéns estavam sempre abarrotados
de mercadorias secos e molhados que importava do Brasil, da I Índia, da China e também
de sua produção vinícola destinada a exportação..
Muito conceituado na sociedade lisboeta, casado e pai de uma
prole de herdeiros de dez filhos..Tinha muito orgulho de seu título de Comendador
que recebera diretamente das mãos do governante da época Antonio de Oliveira Salazar,
pelos seus inestimáveis serviços prestados à Nação Portuguesa.
Mas como disse acima o Senhor Joaquim era um homem
empreendedor, de natureza irrequieta e tinha uma firme disposição de aumentar os seus
negócios .
Como uns dos líderes de negociantes de Portugal, fundou com
seus colegas do porto de Lisboa algumas Associações de Classe, sendo a mais
destacada a Real Academia Portuguesa de Caça, que nas épocas certas promovia caça aos faisões.,
codornises e até javalis. Ele era um dos melhores atiradores com sua arma
calibre 12 de origem austríaca de acabamento em prata com motivos campestres.Mas não estava sereno... no seu íntimo borbulhava algo que
ele não sabia bem o que era....aumentar os negócios...
Numa certa manhã enquanto sentado à beira da cama, coçando a
sua barba e o seu bigode deu-lhe um estalo e pensou consigo mesmo: vou para a África,
ou melhor para Moçambique, tentar aumentar os meus negócios e........caçar
algumas feras.....
Dito e feito. Comunicou tal empreendimento somente á sua cansada
e esgotada esposa, pois ela tinha dado à
luz 10 filhos, 3 homens e sete mulheres que lhe tomavam todo o tempo, pois
ela era uma dedicada e atenciosa esposa, não medindo esforços para manter a família, alimentada, limpa e apresentável.
Como foi dito, o Comendador Joaquim Pereira da Silva,
preparou às escondidas a sua viagem a Moçambique. Não queria despertar nos colegas do
ramo invejas nem tampouco iniciar uma
concorrência que poderia ser desastrosa para os seus sonhos de aumentar os seus negócios.
Levou na sua bagagem um nova arma especial para caçar feras
e quem sabe até elefante.
Uma Winchester calibre 44. Sim, essa poderia matar felinos
de qualquer porte, até leões. Assim que desembarcou em Moçambique manteve contatos com
comerciantes , muito deles portugueses e fez excelentes negócios, principalmente
com seus vinhos de qualidade indiscutível e açúcar mascavo brasileiro.
Bem, e agora , vamos às feras.
Aconselhado por um dos seus
compradores contratou
um guia nativo Bantu, de nome Kisuba, valente caçador e
conhecedor da região e se deslocaram até a região de caça com uma bem montada
comitiva onde armaram o acampamento.
Na manhã seguinte devidamente preparados, Comendador Joaquim
com sua Winchester 44 adentraram a savana. Logo o Comendador se afastou do
grupo, ansioso que era. Foi quando inesperadamente saindo de traz de uma moita
um enorme leão, com uma imensa juba negra, dando um urro fenomenal partiu para
o ataque. Comendador Joaquim não perdeu a calma e com um tiro certeiro no meio da testa
abateu a fera, que caiu aos seus pés.
Foi uma festa no acampamento. A pele do leão foi separada e
preparada para que o Comendador voltasse com a mesma e pudesse apresenta-la
como troféu.
Bem, retornando a Lisboa o Comendador, muito orgulhoso de
seu feito, convocou uma assembleia da Real Academia Portuguesa de Caça para
relatar o seu feito e expor não somente a sua Winchester, como também o troféu assustador :
a pele do enorme leão de juba negra, com sua bocarra aberta mostrando suas enormes
presas.
O Comendador Joaquim preparou-se bastante para o seu relatório,
e querendo impressionar ainda mais a assembleia treinou incansavelmente o urro
poderoso do leão, com sua voz de barítono não esquecendo-se do diafragma, para
que o urro leonino saísse perfeito e pudesse assustar, sim, assustar, as “
raparigas “ e suas mamães.
No dia aprazado, o salão de conferência completamente cheio,
as madames e suas “raparigas” elegantemente vestidas, os homens nos seus
melhores ternos, todos com a
atenção voltadas para o Comendador, que na frente de todos
relatava o feito grandioso.
Quando chegou a hora do urro do leão o Comendador fez uma
pausa de alguns segundos e olhando fixamente a assembleia, com os olhos
arregalados, pernas abertas, encheu seu pulmão no máximo e comprimindo o diafragma deu um
urro assustador:
UUUHHUHUHUUHUUOOHOHOOHOHO
Ai ficou estático, com os olhos arregalados, sem movimentar
um músculo, falou :
Me borrei todo!
Silêncio completo na assembleia, As madames e as “ raparigas
“ se enrubesceram, e se abanavam freneticamente com seus leques chineses. Mas o
silêncio persistia, com o Comendador Joaquim Pereira da Silva totalmente imóvel no
meio do salão. Foi quando o secretario da Real Academia Portuguesa de Caça,
para salvar a situação, levantou-se e disse :
teria que se borrar todo!
Foi agora Sr. Secretário
que me borrei para imitar o leão.
Djalmir e Ana Bessa
23.05.2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário