TREM DE FERRO
Meu pai, Sebastião Bessa da Franca, era militar do Exercito
Brasileiro. E como militar, não sei se
ainda é assim, toda vez que era promovido, era transferido. Foi assim, que
quando ainda morávamos em São Paulo, onde nasci bem como mais dois irmãos, que inesperadamente - sem
saber exatamente porque, tinha 5/6 anos -, fomos de mudança para Ipamerí, Goiás, onde
minha mãe Dulce , nasceu, como também era e é, sede do 6º. Batalhão de
Caçadores.
E como foi aquela
mudança ? De trem de ferro...
E aí começa minha
fixação por estas máquinas maravilhosas. Foi na década de 40.
Lembro-me dos apitos, dos esforços da máquina para puxar a composição, apitando nas
curvas e aquele som característico das rodas dos vagões sobre os trilhos nas emendas, ... teleco-teco...teleco-teco......teleco-teco....além
de um balançar suave de um lado para o outro, que nos ajudava a dormitar, e
fazer da viagem um prazer.
.Depois de apitar insistentemente,
avisando que ia chegar a alguma estação e quando a adentrava , tocava um sino
.....blem..blem...blem .., este, era para alertar aos prováveis passageiros que
era perigoso aproximar-se da composição em movimento.
Lembro-me que usamos
três composições: Estrada de Ferro Paulista, Mogiana e por fim a Estrada de
Ferro Goiás que passava por Ipameri -
Goiás, ponto final de nossa mudança.
Foto - ao lado - da locomotiva em Ipameri, na década de 40.
Morar em Ipameri foi ótimo para a minha idade, para minha
infância onde guardo
lembranças inesquecíveis desta época. Mas isto é outra
estória. Vamos falar de trem de ferro.
Toda vez que eu escutava o apito do trem de ferro saindo ou
chegando da estação, me dava aquela vontade de ir ver aquela máquina, o
que era impedido - devido a pouca idade que eu tinha - , e em obediência às recomendações severas de minha mãe e do
meu pai de não ir sozinho à estação. Mas fui levado para tanto, algumas vezes,
pois minha mãe não tinha tempo. Meu pai, na hora que o trem passava, ele estava
no quartel, cumprindo suas obrigações. Éramos 5 crianças necessitando de
cuidados e atenções.
Depois de alguns anos morando em Ipamerí, eis o inesperado:
promoção, transferência e guerra mundial. Transferência para Juiz de Fora,
Minas Gerais, sede da 4ª. Região Militar, onde a especialidade de meu pai,
rádio comunicação, era muito solicitada.
A viagem para Juiz de Fora foi de trem...oh que ótimo ! Fomos morar em Mariano Procópio, bairro de Juiz de Fora e sede da 4ª Região. Mas o
que tinha Mariano Procópio que me atraia? Estação da Estrada de Ferro Central do Brasil
! Mas já com 10/11 anos, começava a
rebeldia, eu fugia sorrateiramente e ia
para a estação assistir ao trem chegar e sair. Era lindo ver as locomotivas à
vapor a puxar as composições com vários vagões , que
as tornavam longas, as vezes até com
duas locomotivas que para se
movimentarem usavam de toda sua força, muitas vezes patinando sobre os trilhos,
na hora da arrancada.
Mas por que eu
gostava tanto e ainda gosto das locomotivas a vapor das estradas de ferro? Porque
elas são verdadeiras obras de arte, representam a força e pertencem há uma época diferente da de hoje.
Arte, força e saudosismo, que me levam a admirar um artista
brasileiro, mas precisamente gaúcho, que nasceu em Passo Fundo, Rio Grande do
Sul, em 1928 e veio a falecer em 1990. Seu nome é Glauco Pinto de Moraes. Foto abaixo.
Pintor, autodidata e
advogado, mais pintor que advogado, que fez das locomotivas a vapor a temática mais importante de sua obra hiper-realista. Levou para a tela além das
locomotivas detalhes das mesmas, como os
limpa- trilhos, pistões, engates, molas e outros.
O Artista Plástico Glauco
Pinto de Morais , é citado com muita justiça, com um verbete no Dicionário
Brasileiro de Artistas Plásticos, do MEC, edição de 1974.
Deixou de ser
registrado naquele dicionário , as inúmeras e incontáveis exposições que
participou, inclusive a Bienal de São Paulo de 1975 e 1979.
Brasília-DF, 12 de fevereiro de 2015
Djalmir Bessa
Djalmir Bessa
Re - Publicação
Isso me fez lembrar da poesia de Manoel Bandeira, Trem de Ferro.
ResponderExcluir