27.8.14

A USINA E SEUS CAMINHOS-HISTÓRIAS DE ANINHA


                                                                        4º Episódio 

                                         A USINA RESSACA E SEUS CAMINHOS



Com a morte inesperada de meu Pai, Mamãe resolveu ficar na Usina Ressaca.

Moramos na Ressaca por mais ou menos 4 anos.
Ainda se produzia açúcar e aguardente de cana. Está localizada à cerca de 15km da cidade de São Luiz de Cáceres – MT, estrada de terra até hoje.

                                                                              
Brasília, onde moro há mais de 35 anos, tem a forma de um avião e me faz lembrar o formato da Ressaca.

Procuro detalhar o "lay-out" da Usina, porque lá se desenrolaram os fatos marcantes de minha infância , objeto das minhas histórias...

Na Ressaca, eu andava, corria, brincava descalça pelas ruas e campos; tomava banho nos córregos, chupava cana, chutava as águas da chuva que ficavam retidas em poças nos gramados e campos; brincava de roda nas noites enluaradas ... Era tudo maravilhoso... Tudo perfeito!
    
Sobre a Usina, diz Lenine de Campos Póvoas em O ciclo do Açucar...
 (1985, p. 44-45) – UNEMAT 2011 – Ave Palavra:
“Possuía o estabelecimento a “Casa Grande” de residência do proprietário; o
edifício da fábrica, imponente, todo construído de pedra canga lavrada, com
argamassa de areia e cal, que mesmo sem ter utilizado cimento, é de uma
solidez impressionante; as casas para residência de funcionários graduados
da usina; cinco grupos de casas geminadas para moradia de “camaradas”,
depósitos; armazéns; oficina mecânica; oficina de carpintaria, etc.”
  



 Em Brasília , a Praça dos 3 Poderes  tem o formato de U, com o Congresso Nacional – central -   na curva do . Olhando  do Congresso, este é  circundado pelo Palácio da Justiça e do Governo e Ministérios ao lado direito.
Do lado esquerdo, é circundado pelo Ministério das Relações exteriores, Anexos da Câmara  e Ministérios....





Na Ressaca era semelhante: no centro do U da Ressaca eram a Oficina, a Carpintaria, e outros, tendo ao fundo destes um tanque de água represada dos córregos para gerar a energia elétrica.  



Foto Ilustrativa

 O tanque era um grande canal, todo calçado e com acabamento em tijolos onde minha irmã e suas amigas me levavam para nadar com elas e também era um local onde se podia pescar cascudo e outros peixes menores.
 Lavavam   o tanque de vez em quando para tirar a lama que se acumulava no fundo, e era uma fartura de peixes ... Pegávamos os peixes com as mãos e era uma grande diversão da criançada...


  Ao lado  esquerdo da Oficina e Carpintaria  ficava o  Prédio da Usina e próximo deste,  ficavam  o Depósito e o armazém de secos e molhados – como gêneros alimentícios, tecidos para confeccionar roupas e etc -;  as casas do Contador/Tesoureiro e do Gerente do armazém – Sr. Pereira - e outras.  O dinheiro corrente era em forma de “Vale” com valores definidos,  como as nossas notas... Estes vales,  eram emitidos pela Usina e movimentava as compras no armazém... Quando alguém necessitava de Cruzeiros, o Contador os trocava...

O Gerente do Armazém sêo Pereira era casado com Dona Xavi e tinha uma filha de minha idade de nome Jacy e mais dois meninos...
Jacy como eu, éramos as caçulinhas, as xodozinhas...
 Éramos amigas,  brincávamos juntas e as nossas famílias, eram amigas, também !


Concluindo a descrição,  agora  do lado direito do U aqui em Brasília – como eu disse acima -,   ficam os Palácios da Justiça e  do Governo. Na Ressaca, ficavam,  um outro Depósito onde se processavam a lavagem das garrafas e a Casa Grande, que ocupavam todo o lado direito da Praça.

E a  coincidência:
1ª – No Palácio da Justiça , se colocam os interesses das pessoas em ordem;
 na Usina,   as garrafas eram lavadas e colocadas em ordem;
2ª – No Palácio do Governo, fica o Presidente; na Casa Grande, o Proprietário Gestor.

Se lembrar as coisas, é repetir momentos felizes..., assim estou: muito feliz. Glória a Deus!

Não importa os tempos, não importa as pessoas, lugares e situações, o que importa, é viver cada momento da nossa vida, de forma intensa, sabendo que nada dura para sempre, porque tudo passa, só Deus não passa!

Brasília, 27 de agosto de 2014
Ana Miranda Bessa
A edição do 5º Episódio, será na próxima 4ª feira, dia 03 de setembro.  

                                   







20.8.14

OS RISCOS DA MATA - HISTÓRIAS DE ANINHA



                                   
                                   
                                           3º EPISÓDIO –  OS RISCOS DA MATA


                                                                    Foto Ilustrativa


Papai e mamãe era um casal muito  feliz!
Minha irmã mais velha, a Maci, conta que Papai tocava sanfona e cantava junto com a Mamãe em casa e nas festas das redondezas.

Eu toco teclado e canto nas Missas dominicais do Santuário São Francisco de Assis na 716 Norte e  na 1ª terça-feira do mês  na missa de Santo Antonio Galvão – Frei Galvão, na Paróquia Nossa Senhora do Lago Norte, em Brasília.
Bessa, meu marido também canta, me ajuda e me acompanha sempre, graças a Deus.

Cantar e levar  alegria aos outros é um dom de Deus e isso herdei do meu Pai e da minha Mãe. Glórias e louvores ao Senhor nosso Deus!


Como a nossa casa em Simão Nunes - propriedade da Usina Ressaca - foi  construída numa  área alta do terreno, nos permitia que víssemos as onças pardas e pintadas  do outro lado do rio Paraguai e era uma diversão contemplá-las à distância se deleitando na prainha de areia com seus filhotes. É uma imagem muito linda e querida que está na minha mente.
                                                           



Quando meu pai com os homens se afastavam para desbravar as terras, e  as onças pintadas ou pardas se aproximavam da casa, mamãe as espantava  tocando com um pau ou uma vara forte nas latas grandes, vazias,  de biscoito e bolachas que ficavam dependuradas na cerca... Foi meu Pai quem providenciou as latas e as dependurou amarradas na cerca...

A fortaleza da nossa casa era apoiada nas latas e na ajuda dos cachorros. Quando os cachorros latiam, era o sinal de que havia onças rondando por perto. Assim, com os latidos dos cachorros, minha Mãe batia nas latas na esperança de que as feras fossem embora...
O barulho era estridente e as  afastava  de perto de casa, que com certeza queriam pegar os animais domésticos...

Parecia um filme do Jurassic Park ...
Nesse momento, eu me escondia embaixo da cama...

Numa das excursões mata a dentro,  Papai comeu mel envenenado pelos índios , que ocasionou a sua morte. Os homens que trabalhavam com meu pai, desconfiados, não comeram daquele mel...
 Papai passou mal e foi levado para Cáceres às pressas, ficou hospedado na casa de Tia Theodora – parteira – prima  de meu vô Luiz Militão.  

Meu pai, desenganado pelos médicos, pediu para retornar à Ressaca onde faleceu e seus restos mortais lá se encontram no Cemitério  local, à entrada da Usina.

A Usina Ressaca atualmente é do grupo Grendene que explora a criação de gado. O cemitério foi cercado e encontra-se dentro do grande curral de pastagens.  Da década de 50, ainda permanecem o prédio da Usina e parte da casa grande.

 Mamãe quando estava  em Cáceres com Papai doente, por volta das 18 horas, sabendo da gravidade da saúde de meu Pai e angustiada com a nossa criação , na oração do Ângelus,  sentiu a presença de Nossa Senhora que lhe dizia: “ Deus lhe tirará seu marido, mas sempre a amparará...” e assim foi, graças a Deus!
Deus sempre esteve conosco e apoiou a minha Mãe viúva e a nós, seus filhos...

Quando meu pai faleceu, eu estava com 4 anos de idade.
 Desde então Mamãe preferiu ficar só.
 Deixou Simão Nunes e ficamos morando na Usina Ressaca.

 Dr. Gentil, casado com Dona Branca, era o novo sócio-administrador.

Brasília, 20 de agosto de 2014
Próximo episódio, 4ª feira, dia 27.08.14


13.8.14

HISTÓRIAS DE ANINHA: A CASA E O RIO, EM SIMÃO NUNES


                                                2º EPISÓDIO 
                            
                              SIMÃO NUNES:  A CASA  E O RIO

Os homens que papai levou para realizar a empreitada com ele, embrenhavam-se mata adentro derrubando árvores, limpando, formando pastagens pois o objetivo era esse.
Nessa época não havia preocupações com o meio-ambiente...
Devem ter construído um Alojamento para os Contratados um pouco afastado  da nossa casa, pois não me lembro...

          Foto Ilustrativa                                        

Papai fez uma casa “bonitinha” para a família, de barro e sapê com 3 quartos/sala , cozinha externa  com fogão e forno de lenha,  jirau de madeira para lavar louças, panelas e as roupas...

Ao lado esquerdo da casa fez um curral onde existiam bois e vacas, galos, galinhas e pintinhos.


Do lado direito existia uma grande clareira ...
Ali, aves silvestres como perdizes, inhambus e outras botavam  ovos e era sempre motivo de alegria para mim, meus irmãos Ninito e Maria apanharmos os ovos para fazermos quitutes...
   

                                                                                                            

       Ovos de Perdiz











                                                                                                                                                                                                         Ovos de Inhambu


Nossa casa foi construída numa área de terreno alto e  ficava em frente ao rio Paraguai.

 Um pouco à direita havia um acesso ao rio mas não tão próximo da casa.
 Meu pai  fez uma escadaria no barranco, em frente a nossa casa.

 Minha irmã Maria para ir até o rio descia a escadaria, ela  pegava a canoa e se divertia sozinha remando no rio ...
 Do barranco eu a via singrando as águas caudalosas do rio Paraguai.
 Eu não descia aquela escada porque tinha muito medo. 
Ao mesmo tempo, ao ver minha irmã ao longe  remando, me encantava, me dava medo e eu temia pela vida dela. Era instintivo!

A imagem da escada, que me assustava muito, permanece até hoje em minha mente.

Em l982, já morando em Brasília, conhecemos o artista plástico José Roosevelt 

Neste Quadro, em que foram retratados a nossa filha Cássia e o meu marido Bessa, ressalto que a nossa filha estava então com 3 anos, a mesma idade que eu tinha quando morava em Simão Nunes...

E aqui o quadro citado.
 Destaco que foi pintada a escada que me assustava no seu canto inferior direito.
                         



Adulta, tive muitos sonhos, pesadelos, com escadas e escadaria...
Sempre que esses sonhos aconteciam, eu me recolhia  em mim mesma, para saber as razões dos mesmos estarem em minha memória.

 Um belo dia, contando para o meu marido os meus sonhos e pesadelos ele lembrou-me   que a escada no barranco do rio Paraguai fazia parte das minhas lembranças à época de minha infância em Simão Nunes.

Assim pela graça de Deus, esses sonhos e pesadelos desapareceram e nunca mais sonhei nem tive pesadelos com aqueles fatos...

É impressionante como a nossa mente guarda fatos remotos que interferem de alguma forma na nossa vida adulta, quer em forma de comportamento, caráter, ou sonhos e pesadelos onde o nosso inconsciente está à mercê dos mistérios da nossa mente...

É muito importante e necessário compartilhar, não só nossas alegrias mas também nossas angústias e apreensões, com as pessoas do nosso relacionamento. 

 Deus sempre nos envia Anjos para nos ajudar...

Brasília, 13 de agosto de 2014
Ana Miranda Bessa
3º episódio: próxima Quarta-Feira, dia 20
Maria de Jesus, nesta Sexta, dia 15
                                             

5.8.14

HISTÓRIAS DE ANINHA - RESSACA/SIMÃO NUNES




Aos Leitores:

Começo a publicar a história da minha vida onde nomes, locais e fatos são verídicos.

Com relação aos meus avós e meus pais Pedro Pinto de Miranda e Carmem Ventura Batista, pouco sei a respeito deles...

O corre-corre da vida, o trabalho remunerado desde os 14 anos de idade, como Locutora, na Rádio A Voz d`Oeste  em Cuiabá Mato Grosso...

Eu tinha como objetivo primordial  estudar, porque muito cedo eu percebi sozinha, ninguém me falou, que só havia uma possibilidade de eu sair daquele extrato social ao qual eu pertencia,  que era: estudar , estudar e estudar!

Assim, pela graça de Deus cheguei a conquistar um Diploma de Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT e uma Pós-Graduação em Planejamento a Nível Estadual - 584 horas, realizado pelo  Centro de Treinamento para o Desenvolvimento Econômico – CENDEC, na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte.

Agora, Aposentada, sobra-me tempo para pesquisar as indagações sobre os meus antepassados e saí em busca delas...

Por isso compartilho com muita emoção e satisfação para o meu íntimo esta simples história que tem por finalidade,  testemunhar a presença constante e fiel de Deus em nossas vidas e deixar registrado para os meus descendentes esta história, que também é parte deles.






                                                           1º Episódio 
                                   
                                          DA RESSACA À SIMÃO NUNES

Minha mãe Carmem Ventura Batista ficou viúva duas vezes. No primeiro casamento, ela casou-se muito cedo e teve três filhos: Benedito – Tito, Maximiana - Maci e Maria José Pires Correa – Maria.

Com o falecimento do seu primeiro marido, casou-se com meu pai Pedro Pinto de Miranda e tiveram dois filhos: Valentim Pinto de Miranda – Ninito e eu, Ana Pinto de Miranda – Aninha.

Eu nasci na Usina Jacobina – município de Cáceres, Mato Grosso, na década de 40, pelas mãos da parteira cacerense Dona Teodora, prima de meu avô Luiz Militão Pinto de Miranda e por isso a tratávamos carinhosamente como  tia Teodora.

Meu pai foi convidado para ir trabalhar como Capataz na Usina da Ressaca, produtora de açúcar e aguardente de cana, localizada também no município de Cáceres - Mato Grosso.

Na Usina Ressaca, morávamos numa casa ampla, de esquina...
Minha mãe ficou grávida e deu à luz um menino nati-morto.


Dessa época, um fato me vem à mente: quando mamãe deu à luz meu irmãozinho – nati - morto,  eu tinha então dois anos de idade  e fui levada pelo meu cunhado Antonio Caetano Fardim casado com a  minha irmã Maci para a casa deles.
Lembro-me perfeitamente que ele me levou no colo, bem como lembro-me do percurso feito da minha casa à casa deles... Eu chorava muito.

As separações são sempre angustiantes e as crianças as sentem muito mais num primeiro instante, mas a Misericórdia Divina que tudo preenche, alivia e sana,  nos compensa sempre, graças a Deus!

Meu “ pai era um bom homem e muito trabalhador.” O sócio-administrador  da Usina, José Villanova Torres o incumbiu de desbravar Simão Nunes, um dos Redutos da Usina Ressaca às margens do rio Paraguai.

Papai foi à Cuiabá, Capital do Estado de Mato Grosso contratar a mão de obra pertinente e trouxe consigo 08 homens fortes para a empreitada...

Simão Nunes, na época, era uma região inóspita, rio caudaloso, matas virgens com índios selvagens, onças pardas, pintadas, cobras e outros...

Brasília, 05 de agosto de 2014

Ana Miranda Bessa

Lembretes:
 5ª feira dia 07/08, mais um capítulo de Maria de Jesus...
 3ª feira 12 -  2º Episódio das Histórias de Aninha