30.9.14

O PÉ DE TARUMÃ - HISTÓRIAS DE ANINHA

                             
                                                        


                                                    8º Episódio       
                               
                                              


Na Usina Ressaca, seguindo em frente, existiam outras casas menores e mais adiante a Escola Primária .
Em frente a esse conjunto de casas do  lado esquerdo, era o curral...

O curral ocupava uma área imensa e por ele passava um córrego fluente. No curral havia pés de Tarumã, frutinha docinha e azedinha  de cor preta, sabor e cor intensas que pegávamos do chão para comer porque as árvores eram muito altas, antigas... É considerada Árvore Símbolo de Mato Grosso.



Quando chovia, nossa brincadeira preferida era correr no gramado do curral chutando a água e se molhando nela... As águas levantadas como cristais verticais transparentes eram um belo espetáculo de se ver e curtir...

A estrada de acesso à Usina tinha um pontilhão sobre o córrego . Sob o pontilhão, era o local preferido das donas de casa e mães de família para lavarem as roupas, porque além da sombra do pontilhão, havia o gramado onde as lavadeiras espalhavam as roupas ensaboadas para corar ou "quarar" e a cerca do curral, onde dependuravam as roupas lavadas e enxaguadas para  secar.

Era naquele pontilhão, que no dia 24 de junho na festa de São João Batista,  se dava “banho” na imagem do santo, uma tradição popular.  Existia a superstição de se olhar a sombra na água... Se a visse, era porque no próximo ano,o/a dono/a da sombra, lá estaria ... A Festa,  na casa da Família Festeira,   tinha  fartura de  comes e bebes e danças do siriri e cururu e era muito animada.  Violeiros com seus violões, violas de coxo, bumbos, reco-reco, etc,  cantores e outros animavam a festança ...
Era uma bela festa e  tudo corria  muito tranquilo...

Quando chegávamos à usina o que primeiro se avistava eram os canaviais e logo depois, o curral.
O curral era comprido e chegava até à rua transversal da Casa Grande.
Do lado esquerdo do curral havia um outro conjunto de casas onde moravam o mecânico, motorista do caminhão e outras pessoas que trabalhavam na usina.  Meu cunhado Antonio Caetano Fardim,, casado com minha irmã mais velha a Maci,  era filho do Mecânico   Sêo Tomaz, que tinha uma numerosa família.

                   
                            



Nesta época, minha irmã mais velha Maci tinha duas filhas Maria Augusta e Maria Cristina .  Minhas amiguinhas de infância eram também, minhas sobrinhas.
E a história prossegue no próximo capitulo.
                                              
Brasília, 30 de setembro de 2014
             Ana Miranda Bessa
Próximo Episódio, dia 06 de outubro de 2014


22.9.14

XÁ CARMEM, EM HISTÓRIAS DE ANINHA

                                           7º  Episódio  
                                      XÁ CARMEM


Na língua portuguesa utilizava-se no interior do Brasil especialmente no norte mato-grossense, a expressão “Xá” para designar “ senhora”, “dona”. Dona Carmem Ventura Batista ou Xá Carmem, é minha amada e saudosa Mãe, que já está no Céu!

Na Usina Ressaca abaixo da casa do Gerente sêo Pereira,  havia uma rua transversal que dividia o conjunto composto pela casa grande, usina e administradores, e próxima à casa do Contador/Tesoureiro, ficava  a casa de pesagem...                                                    
                                                                         
Nesse outro conjunto, atravessando a rua da casa de pesagem, moravam a Costureira Xá Carmem – minha mãe – e outras pessoas que trabalhavam na usina ou na lavoura...




Xá Carmem, costurava calça masculina com mãos de alfaiate. As calças e camisas confeccionadas por ela  não ficavam nada a dever ao de um bom alfaiate da cidade de Cáceres. Ela costurava também roupas femininas, era uma costureira completa e nos sustentou com sua profissão.

As pessoas que não tinham dinheiro para pagar as roupas, pagavam com linguiças de carne suína, pernil de carne de caça como anta,  paca, tatu inteiro, banana da terra, abóbora, batata doce, mandioca – que era enterrada para ser conservada pois não tínhamos geladeira, e outros.
Quanto à conservação das carnes mamãe as fritava na banha de porco e guardava em latas grandes de biscoito  e ali permaneciam imersas na banha. Eram usadas à medida das necessidades da culinária.
 As linguiças eram dependuradas em um varal que ficava em cima do fogão de lenha, defumando-se paulatinamente.
 Em casa tínhamos “ de um tudo” como se dizia naquele tempo por aquelas bandas.
Éramos felizes, minha mãe que também era pai criou-nos na sabedoria milenar:  amor numa mão e rigor na outra.

Nossa casa ficava na esquina e havia uma grande árvore em frente... Por ali passavam os caminhões carregados de gêneros alimentícios e outros e pessoas, com destino à Bolívia ou às suas proximidades e ficavam sob à sombra da grande árvore para comerem as suas matulas.
Como a nossa casa era estrategicamente situada  ao lado da estrada e da grande árvore,
muitas pessoas pediam para Mamãe fazer-lhes uma refeição e como Mamãe tinha de um tudo em casa, rapidinho preparava os pratos e recebia um dinheirinho a mais.



De vez em quando havia um jogo de futebol com rapazes da cidade de Cáceres e trabalhadores da Usina e aqueles, comiam a comida de Xá  Carmem... Muitos dos jogadores da cidade achavam o preço muito baixo por comida tão farta e saborosa e costumavam pagar  mais pelo que era cobrado.

A filosofia de Xá Carmem  era: é melhor ter o pouco sempre, do que não ter nada...

As confecções de roupas e comidas a precinhos baixos alegravam os clientes, e a bolsa de Xá Carmem que  sempre tinha um dinheirinho, graças a Deus!


Brasília 22 de setembro de 2014
Ana Miranda Bessa
Próximo Episódio, 2ª dia 29


10.9.14

CAÇADA ÀS POMBAS SELVAGENS - USINA RESSACA


         ‘ 

                                               
                                      

                                            6 º Episódio  
                                      
                                     POMBAS SELVAGENS



Os irmãos de Jacy, filhos de D.Xavy e sêo Pereira e outros meninos da idade deles,  brincavam de caçar pombas e se embrenhavam pela mata adentro com estilingues e fundas...

 Quando eles chegavam da pequena caçada com as pombas, a cozinheira as limpava e preparava uma deliciosa farofa , disputadíssima, porque os meninos eram adolescentes e naturalmente, famintos.


Comíamos aquela farofa com grande alegria e satisfação...  Quanto aos meninos, todos ficavam muito contentes e orgulhosos pelo sucesso da aventura realizada...

Aqui em Brasília, moro em uma região de chácaras e temos e privilégio de poder contemplar algumas pombas selvagens e vários  passarinhos, como Andorinha, Beija-flor, João de barro, Bem-te-vi, Cabeça seca, Sabiá, Alma de Gato, Carcará, Garça, etc.

Na chuva de março deste ano de 2014, filmei   cinco  pombas selvagens, aqui onde moramos, tomando  banho de chuva,  imagem que nem  Bessinha meu marido nem eu, presenciamos até então, em nossas vidas.

                                  

A lei de proteção de animais está em pleno vigor e ao lembrar-me da deliciosa farofa de pombas que comíamos animados e felizes, confesso sentir um certo constrangimento ...
 Mas os tempos eram outros...

Assim, ao ver o belo quadro com 5 pombas selvagens banhando na chuva no quintal de onde moro, sanou o meu sentimento de culpa  -  em relação das que comíamos com farinha -  da minha infância longínqua...

E Vivam as Pombas Selvagens!!!

 Nós as admiramos, amamos e respeitamos !


Brasília, 10 de setembro de 2014.
Ana Miranda Bessa
Próxima edição das Aventuras de Aninha, 2ª feira, dia 15

3.9.14

TRAVESSURAS DE ANINHA NA USINA RESSACA


                                                      
                                                       

                                                         5º Episódio: 

                                   HISTÓRIAS DE ANINHA NA USINA RESSACA
                         

 



As casas da Usina Ressaca tinham quintais individuais separados por cerca de arame farpado entrelaçado com varas finas de arbustos para que as galinhas, galos, patos, pintinhos e patinhos não transitassem entre um quintal e outro ...

 Para entrar e sair do quintal havia um pequeno portão que se mantinha fechado por uma tramela.


Para adentrar a casa da D. Xavi, esposa do seo Pereira, Gerente do Armazém,  o caminho mais curto da minha casa à casa dela, era passar pelo quintal .

Chamava-me  a atenção o Galinheiro... Lá estavam os patinhos e pintinhos amarelinhos correndo e brincando pra lá e pra cá e me chamavam a atenção ... Eu gostava muito de vê-los assim tão pequeninos e  me deliciava em pegar e acaricia-los  por causa da pluma suave de suas futuras penas.



As casas, com exceção da casa grande eram todas geminadas e compridas...
Na sala de refeições da Dona Xavi havia sempre sobre a mesa,  variadas e  belas compotas de doces. Compota  de mamão, caju, limão, laranja, goiaba, figo, etc.



 A minha vontade de comer doce era maior que o meu respeito pelo politicamente correto e eu pegava escondido doce com a mão suja de patinhos e pintinhos ...
Doce na mão eu saia pela casa e muitas vezes, pingava calda no chão, denunciando que alguém havia comido doce da compota...
Mas como o chão era calçado com tijolo, saber o que tinha acontecido ali, devia ser irrelevante...

Assim, quando vejo pessoas que têm nojo de tudo, que têm um zelo excessivo pela limpeza..., lembro-me que eu fazia aquilo ingenuamente  e ninguém sabia se uns dedinhos sujos  foram enfiados naquela sobremesa...

Claro que devemos amar a limpeza porque é para o nosso próprio bem, mas não devemos 
ser escravos dela.
Brasília, 03 de setembro de 2014
Ana Miranda Bessa
Próximo episódio, 4ª feira dia 10.