22.9.14

XÁ CARMEM, EM HISTÓRIAS DE ANINHA

                                           7º  Episódio  
                                      XÁ CARMEM


Na língua portuguesa utilizava-se no interior do Brasil especialmente no norte mato-grossense, a expressão “Xá” para designar “ senhora”, “dona”. Dona Carmem Ventura Batista ou Xá Carmem, é minha amada e saudosa Mãe, que já está no Céu!

Na Usina Ressaca abaixo da casa do Gerente sêo Pereira,  havia uma rua transversal que dividia o conjunto composto pela casa grande, usina e administradores, e próxima à casa do Contador/Tesoureiro, ficava  a casa de pesagem...                                                    
                                                                         
Nesse outro conjunto, atravessando a rua da casa de pesagem, moravam a Costureira Xá Carmem – minha mãe – e outras pessoas que trabalhavam na usina ou na lavoura...




Xá Carmem, costurava calça masculina com mãos de alfaiate. As calças e camisas confeccionadas por ela  não ficavam nada a dever ao de um bom alfaiate da cidade de Cáceres. Ela costurava também roupas femininas, era uma costureira completa e nos sustentou com sua profissão.

As pessoas que não tinham dinheiro para pagar as roupas, pagavam com linguiças de carne suína, pernil de carne de caça como anta,  paca, tatu inteiro, banana da terra, abóbora, batata doce, mandioca – que era enterrada para ser conservada pois não tínhamos geladeira, e outros.
Quanto à conservação das carnes mamãe as fritava na banha de porco e guardava em latas grandes de biscoito  e ali permaneciam imersas na banha. Eram usadas à medida das necessidades da culinária.
 As linguiças eram dependuradas em um varal que ficava em cima do fogão de lenha, defumando-se paulatinamente.
 Em casa tínhamos “ de um tudo” como se dizia naquele tempo por aquelas bandas.
Éramos felizes, minha mãe que também era pai criou-nos na sabedoria milenar:  amor numa mão e rigor na outra.

Nossa casa ficava na esquina e havia uma grande árvore em frente... Por ali passavam os caminhões carregados de gêneros alimentícios e outros e pessoas, com destino à Bolívia ou às suas proximidades e ficavam sob à sombra da grande árvore para comerem as suas matulas.
Como a nossa casa era estrategicamente situada  ao lado da estrada e da grande árvore,
muitas pessoas pediam para Mamãe fazer-lhes uma refeição e como Mamãe tinha de um tudo em casa, rapidinho preparava os pratos e recebia um dinheirinho a mais.



De vez em quando havia um jogo de futebol com rapazes da cidade de Cáceres e trabalhadores da Usina e aqueles, comiam a comida de Xá  Carmem... Muitos dos jogadores da cidade achavam o preço muito baixo por comida tão farta e saborosa e costumavam pagar  mais pelo que era cobrado.

A filosofia de Xá Carmem  era: é melhor ter o pouco sempre, do que não ter nada...

As confecções de roupas e comidas a precinhos baixos alegravam os clientes, e a bolsa de Xá Carmem que  sempre tinha um dinheirinho, graças a Deus!


Brasília 22 de setembro de 2014
Ana Miranda Bessa
Próximo Episódio, 2ª dia 29


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