‘No Advento, celebramos a vinda de Deus para nos salvar. A salvação é uma realidade que o homem já vai experimentando na história. Na primeira leitura da liturgia deste domingo (Br 5, 1-9), Israel experimenta a salvação, a libertação de Deus. Muitos povos migraram de suas terras, foram escravizados e libertados. Mas o povo de Israel vê e lê a sua história à luz da fé e, por isso, a libertação do exílio é obra de Deus. Deus é Aquele que tira da escravidão e conduz à libertação. Esta é a vocação de Israel: ser povo livre. O profeta Baruc descreve como um grande caminho processional, com beleza, a libertação: “Despe, Jerusalém, a veste da tua tristeza e desgraça, e reveste para sempre a beleza da glória que vem de Deus” (Br 5, 1). A vocação à liberdade é para todo homem e toda mulher. Mas o ser humano sempre viverá na história os condicionamentos e, por isso, nunca se sentirá totalmente livre. Somente Deus pode ir abrindo a história humana de cada pessoa à verdadeira liberdade, porque só Ele pode nos salvar e nos dar a verdadeira liberdade. O Advento relembra ao ser humano que não fomos criados para a escravidão, que a nossa vocação é para a liberdade, mas só Deus pode nos tornar verdadeiramente livres.
No Evangelho, na voz de João Batista, todo homem é
vocacionado à verdadeira liberdade, à salvação: “E todo homem verá a salvação
de Deus”. João Batista é o homem do deserto, é lá que a palavra de Deus o
encontra. O Evangelho vai dos grandes acontecimentos históricos da época, da
força do poder de Tibério César em Roma, de Pôncio Pilatos na Judéia até o
deserto da Judéia. É uma forma de situar um fato na história, mas, também, é um
modo de dizer que a ação de Deus se dá com absoluta liberdade, pois, é no
deserto, lugar sem vida, lugar da aridez, que Deus dirige a Sua palavra a um
homem chamado Yohânân (João). Seu nome é uma missão: Deus é
misericordioso. Deus escolhe o caminho da pequenez, da insignificância, para
atingir o coração dos homens e as estruturas. João percorre toda a região do
Jordão. A palavra de Deus o coloca em ação, deve caminhar anunciando a Palavra
de Deus. Ele proclama um batismo de arrependimento para a remissão dos pecados.
João proclama uma boa notícia, um kêrussein (kerygma), um batismo
para a conversão (metanoia) dos pecados.
Conversão significa mudança de rota, de caminho, de vida. A
mudança é uma realidade constante na nossa vida. O ser humano é um ser que se
encontra nesta dinâmica de transformação, e talvez a palavra ‘mudança’ expresse
bem a nossa época. Também na nossa vida de fé, na nossa interioridade, é
preciso mudança: mudança de mentalidade, de atitudes etc. João Batista é o
profeta que nos desestabiliza e nos coloca em movimento rumo ao Messias. Em
Jesus Cristo, a salvação será para todo homem, toda mulher, para todo ser humano:
“(…) e todo homem verá a salvação que vem de Deus” (Lc 3, 6).
Que a misericórdia de Deus, que o próprio nome ‘João’
anuncia, ajude cada um de nós a nos colocarmos numa atitude de mudança,
direcionando a nossa liberdade para Deus, deixando que Ele a cure e nos torne
verdadeiramente livres.’
PALAVRA DO
PASTOR
NOSSA VOCAÇÃO À LIBERDADE
Dom Paulo Cezar
Costa
Arcebispo de Brasília – DF.
Em, 05 de dezembro de 2021
Ana Pinto de Miranda
Bessa
À serviço
do Senhor!
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