‘A Palavra de Deus, neste domingo, coloca diante de nós a
vocação de Isaías (Is 6, 1-2. 3-8), a vocação de Pedro (Lc 5, 1-11) e o credo
primitivo sobre a ressurreição (1Cor 15, 1-11). Nas duas narrativas de vocação
estão a consciência da situação humana diante da grandeza do mistério de Deus.
É a experiência que o homem bíblico tem diante do mistério de Deus, mistério
transcendente e glorioso, tremendum et fascinans. Tremendo porque é
santidade, absoluta superioridade e inacessibilidade. Fascinante porque o
mistério atrai e a criatura humana sente a necessidade de aproximar-se. (M.
GRILLI, Sulla via dell`Incontro, 61). Mas o Deus que Se revela no Antigo
Testamento e em Jesus de Nazaré vai além, pois é Ele quem desce e vem ao
encontro da criatura humana. É Ele mesmo que, em Jesus de Nazaré, torna-Se um
de nós, que Se aproxima dos mais perdidos da sociedade para salvar-nos. Deus
rompe a oposição entre Sua glória e santidade e o pecado humano, vindo Ele
mesmo ao encontro do homem para salvá-lo e o libertar.
Isaías, no templo, faz uma profunda experiência da beleza do mistério de Deus. A beleza de Deus fascina o ser humano. Ela, num primeiro momento causa medo, mas, ao mesmo tempo, fascina o coração, pois o ser humano foi criado para a beleza. E a beleza de Deus não elimina a feiura da vida humana, mas a salva, pois a acolhe, a encontra lá onde ela está. A beleza de Deus é a beleza do amor, que só pode amar. O amor não pode deixar de amar.
Pedro faz a mesma experiência. Já tinha trabalhado a
noite inteira. Agora há uma Palavra nova: “Avança para águas mais profundas, e
lançai vossas redes para a pesca”. Tinham trabalhado a noite inteira e não
tinham apanhado nada. Mas em atenção à Palavra de Jesus, lançam as redes.
Apanharam tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam. Somos sempre
convidados a pescar com Jesus, obedecendo à Palavra de Jesus. Quando fazemos as
coisas humanamente, às vezes nos deparamos com o insucesso. Mas quando
escutamos a Palavra de Jesus e fazemos obedecendo à Sua palavra, a pesca será
sempre abundante. Assim deve ser na vida da Igreja, na caminhada de nossas
comunidades e também na nossa vida pessoal: fazer sempre ouvindo e obedecendo a
Palavra de Jesus, fazer com Jesus no nosso barco.
Depois do sucesso da pesca, diante daquilo que o Senhor
fizera, Pedro se dá conta da sua realidade de ser um homem pecador: “Senhor
afasta-te de mim, porque sou um pecador”. Isaías tem a mesma experiência no
templo: “… sou apenas um homem de lábios impuros”. Mas Jesus quer transformar
aquele pescador de peixes em pescador de homens: “Não tenhas medo! De agora em
diante serás pescador de homens”. Pedro, entretanto, deve vencer o medo.
O medo é aquilo que nos aprisiona e nos impede de perceber que Aquele que nos
chama vence a nossa incapacidade, a nossa limitação, o nosso pecado. Quando
ficamos olhando demasiadamente para nós mesmos, para a argila da qual somos
feitos, deixamos de realizar grandes coisas, pois a confiança é colocada nas
nossas pobres forças que são incapazes, não no poder da graça de Deus que,
mesmo com instrumentos inadequados, realiza grandes obras.
Que a força da ressurreição, que os discípulos
experimentaram (1Cor 15,3-8), ajude-nos a perceber que Deus quer vencer
também as nossas mortes e os nossos pecados, transformando-os em vida, em
ressurreição.’
PALAVRA
DO PASTOR
AFASTA-TE DE MIM, SENHOR, PORQUE SOU PECADOR
Dom
Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília – DF.
Em, 06 de fevereiro
de 2022
Ana Pinto de Miranda
Bessa
À serviço
do Senhor!
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