'Neste domingo, a Palavra de Deus nos traz as bem-aventuranças na versão do Evangelho de São Lucas (Lc 6, 17. 20-26). No Evangelho de São Mateus, que apresenta Jesus como o novo Moisés, Jesus sobe a montanha e proclama a nova Lei. Em São Lucas, é o discurso da planície: “Jesus desceu da montanha com seus discípulos e parou num lugar plano” (Lc 6, 17). O fato de Jesus descer da montanha circundado pelos discípulos mostra que, de agora em diante, eles estarão envolvidos no ensinamento de Jesus. Lá estão os outros discípulos e a multidão. Aqui já há uma antecipação da futura comunidade cristã. Jesus, erguendo os olhos para os discípulos, proclama as bem-aventuranças, que são proclamações de forma positiva de bem-aventurados, felizes para categorias bem concretas de pessoas: pobres, famintos, quem chora etc. Esta concretude mostra que a felicidade do Reino não é uma realidade meramente espiritual, refugiada no interior dos corações, mas ela é construída, neste mundo, mediante a fidelidade a Jesus Cristo e a Seu Evangelho. Elas são descritas de forma que o ouvinte de Jesus e os ouvintes de hoje se sintam interpelados: “bem-aventurados vós…”
Jesus proclama que são bem-aventurados quando vos odiarem,
vos expulsarem, vos insultarem e vos amaldiçoarem por causa do Filho do Homem.
Os primeiros cristãos viveram essa realidade pela perseguição que sofreram por
causa do nome de Jesus Cristo. Ainda hoje, em várias partes do mundo, por falta
do grande bem da liberdade religiosa, há tanta gente que sofre e até perde a
vida por causa da fé em Jesus Cristo. O cristão que sofre por causa de Jesus
Cristo, o mártir, tem esta certeza: a de que Deus mesmo será a sua recompensa:
“Alegrai-vos, nesse dia, e exultai, pois será grande a vossa recompensa no
céu”. Essa mesma atitude, que os discípulos de Jesus experimentam e as gerações
futuras até a nossa vive, já se encontrava na tradição de Israel, na história
dos profetas que sofreram e até morreram na sua fidelidade a Deus.
Na segunda parte do Evangelho, estão os “ai”.
Se makarios, bem-aventurados, exprime a benção daqueles que esperam no
Senhor, plen ouai, traduzido por “ai”, exprime uma palavra de condenação,
de reprovação. A condenação, se percebermos bem, encontra-se exatamente no
oposto às bem-aventuranças: ricos, vós que tendes fartura, que agora rides,
quando todos vos elogiam. Não é a atitude em si que é condenada, mas quando
esta atitude expressa oposição ao Reino de Deus, aos valores do Evangelho. O
próprio Evangelho de Lucas descreve o encontro de Jesus com um rico: Zaqueu (Lc
19, 1-10). Neste encontro, o evangelista quer mostrar que um rico pode ser
salvo. O problema é quando se vive em oposição ao Reino, quando se
ignora, na vida cotidiana, Jesus Cristo e seu Evangelho. Essa atitude de
falsidade diante de Jesus Cristo e seu Evangelho já se encontrava, na tradição de
Israel, expressa pela vivência dos falsos profetas com relação a Deus: viveram
da falsidade. Só que com Deus não se brinca. Deus aceita nossas limitações,
nossas incapacidades de responder ao Seu projeto de amor, mas não nosso deboche
ou nossa indiferença.
Que escutar as bem-aventuranças e refletir sobre elas nos
ajudem a crescer no caminho de discipulado e do comprometimento com Jesus
Cristo e seu Evangelho.'
PALAVRA DO PASTOR
A VIDA BEM-AVENTURADA
Dom Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília - DF.
Em, 13 de fevereiro de 2022
Ana Pinto de Miranda Bessa
À serviço do Senhor!
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