‘O evangelho deste quinto domingo da Quaresma nos apresenta o encontro entre Jesus e a mulher adúltera (Jo 8,1-11) que, nas palavras de Santo Agostinho, é o encontro entre a misericórdia e a mísera. Estamos avançando no tempo da Quaresma e estes domingos querem nos fazer experimentar o amor misericordioso de Deus, aquele amor que vem do mais íntimo de Deus, do coração de Deus. Experimentar o amor misericordioso do Deus que perdoa, restaura, dá vida nova é fundamental na nossa vida cristã. Este amor transforma a existência como transformou a vida desta mulher flagrada em adultério e que, segundo a Lei mosaica, deveria ser apedrejada. O encontro com Jesus salvou a vida desta mulher.
Papa Francisco assim comenta este texto: “Encontraram-se
uma mulher e Jesus: ela, adúltera e, segundo a Lei, julgada merecedora de
apedrejamento; Ele que, com a sua pregação e o dom total de Si mesmo que O
levará à cruz, reconduziu a lei mosaica ao seu intento originário genuíno. No
centro, não temos a lei e a justiça legal, mas o amor de Deus, que sabe ler no
coração de cada pessoa, incluindo o seu desejo mais oculto, e que deve ter a
primazia de tudo. Entretanto, nesta narração evangélica, não se encontram o
pecado e o juízo em abstrato, mas uma pecadora e o Salvador. Jesus fixou o
olhar naquela mulher e leu no seu coração: lá encontrou o desejo de ser
compreendida, perdoada e libertada. A miséria do pecado foi revestida pela
misericórdia do amor. Da parte de Jesus, nenhum juízo que não estivesse
repassado de piedade e compaixão pela condição da pecadora. A quem pretendia
julgá-la e condená-la à morte Jesus responde com um longo silêncio, cujo
intuito é deixar emergir a voz de Deus tanto na consciência da mulher como nas
dos seus acusadores. Estes deixam cair as pedras das mãos e vão-se embora um a
um (cf. Jo 8, 9). E, depois daquele silêncio, Jesus diz: ‘Mulher,
onde estão eles? Ninguém te condenou? (…) Também Eu não te condeno. Vai e de
agora em diante não tornes a pecar’ (8,10.11). Desta forma, ajuda-a a olhar
para o futuro com esperança, pronta a recomeçar a sua vida; a partir de agora,
se quiser, poderá ‘proceder no amor’ (Ef 5, 2). Depois que se revestiu da
misericórdia, embora permaneça a condição de fraqueza por causa do pecado, tal
condição é dominada pelo amor que permite olhar mais além e viver de maneira
diferente.’” (Papa Francisco, Misericórdia et Misera, 1)
A vida desta mulher renasce graças a uma palavra que não
condena, mas que a perdoa. Assim é Jesus. Ele é capaz de ir além. Os acusadores
olhavam para a atitude da mulher e faziam uma aplicação rigorosa da Lei. Para
os fariseus, ela era uma adúltera. Jesus olha a mulher. Não ignora o seu
pecado, mas salva a mulher: “Eu também não te condeno. Podes ir e de agora em
diante não peques mais”.
Que o encontro com este Evangelho nos ajude a termos
atitudes que, a exemplo de Jesus, dignificam e salvam as pessoas porque são
expressão do Seu amor misericordioso.’
PALAVRA DO
PASTOR
A MISERICÓRDIA E A
MÍSERA
Dom
Paulo Cezar Costa
Arcebispo
de Brasília – DF.
Em, 03 de abril
de 2022
Ana Pinto de Miranda
Bessa
À serviço do
Senhor!
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