Capítulo VIII
ENTRA
EM CENA ATÍLIO
Toda esta movimentação comercial estava sendo acompanhada
pelo Sêo Atílio à distância, mas não tão distante assim. O armazém do mesmo era
de um tamanho respeitável, sempre
abarrotado de um tudo, mas o forte mesmo era alimentos e ficava bem próximo ao acampamento dos tropeiros.
Ele não estava nada satisfeito com que via e pensava: Este
Leontino me vende mercadoria pelo mesmo preço que vende para os meus clientes.
Ou eu compro tudo que ele tem, ou ele deve seguir viagem logo!
O Sêo Atílio, no momento tinha pouco recurso ali em Coité, em moeda
metal, mas o cofre estava cheio de papel moeda. A maioria do seu capital, desde
a época de seu pai, já falecido, era representado por certificados de depósitos
do Banco do Brasil, com a declaração expressa que se tratava de deposito em moeda de ouro!
O papel moeda que
ninguém queria saber delas, ele as recebia. Nessa hora ficava com cara de
coitado, de bonzinho. Na verdade tinha
um sistema para receber papel moeda, de aumentar o seu ganho e transforma-las em ouro ! Mas
que sistema era esse, perguntam-me os leitores? Vou desvenda-lo um pouco mais à
frente. Esse Sêo Atílio, de besta só tinha a cara !
Todos , até os menos favorecidos, queriam moedas metal,
prata ou de ouro. Até as de cobre já era
olhada com restrições. Eram feias e ficavam esverdeadas com facilidade.
Sêo Atílio tomando coragem, foi falar com o Leontino.
Atílio: Leontino, vou ser sincero. Estive observando você
fazer negócio com o Damião. Eu não sei por que ele quer tanta rapadura assim.
Será que ele quer abrir algum negócio? Mas se não é para abrir algum negócio,
eu fico imaginando, se ele me comprasse
estas rapaduras de mim eu já ia ganhar algum dinheirinho. Ele pagou em moeda ?
Leontino: Nada Atílio, será que o Damião tem moeda? Se
tiver, deve ser algum patacão, carregado de azinhavre. Eu nunca vi moeda com o
Damião. Eu só vejo cabra e cabrito. Pode ser que agora com esposa nova, talvez
ela tenha alguma moeda. Mas é bom nem perguntar porque ela tem fama de valente
!
Pois é, recebi foi duas bandas de cabra, com bucho e fígado,
frescos, para o meu almoço de amanhã. Assim partiremos depois de amanhã, bem
cedinho, assim que o sol anunciar o dia.
Atílio :Pois é Leontino como está difícil as coisas. Não chove há muito e além do mais
com estas notícias que você nos deu, fome e bandidagem espalhado por aí e agora
esta estória deste homem que se diz santo lá em Canudos. Será que o dito cujo
vai fazer chover?
Leontino: Olha se fizer
cair chuva vai ser muito bom. O que eu sei é que, muitos dos que estão
nas estradas, estão indo para lá. A promessa daquele, que diz ser santo, é que
os que estiverem por perto dele vai ser
muito abençoado assim que a chuva chegar. A chuva vai ser em abundância, diz
ele.
Atílio: ( já aliviado com a notícia de que o Leontino já
estava indo embora, mas naquele momento teve outra ideia). Sabe Leontino, me
ocorreu propor um negócio para você. Eu
compro toda a sua mercadoria com muito esforço ( Atílio era mestre em mentiras toda
vez que se falava em dinheiro), até pegando dinheiro emprestado ( outra
mentira), se você me der um desconto de 40%.
Leontino: Pensativo e coçando a cabeça. Se me pagar com moeda,
nada de papel moeda, sem pedir prazo, ele até aceitaria, com um desconto de
20% Assim não precisava continuar viagem
e voltaria para casa, ou ainda ir para Canudos para ver de perto este tal santo que promete muita chuva.. .
Bem, começou a falar muito devagar, medindo as palavras: Bem
Atílio, 40% é muito desconto, mexe até no meu capital. Se falar em 20% eu
aceito. Mas como você vai me pagar? .Já adianto que não quero papel moeda!
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