18.12.14

COITÉ- Capítulo VIII- ENTRA EM CENA ATÍLIO

                                      

                                Capítulo VIII

                          ENTRA EM CENA ATÍLIO


Toda esta movimentação comercial estava sendo acompanhada pelo Sêo Atílio à distância, mas não tão distante assim. O armazém do mesmo era de um tamanho respeitável,  sempre abarrotado de um tudo, mas o forte mesmo era alimentos e ficava bem próximo ao                     acampamento dos tropeiros.                                                                                                       

Ele não estava nada satisfeito com que via e pensava: Este Leontino me vende mercadoria pelo mesmo preço que vende para os meus clientes. Ou eu compro tudo que ele tem, ou ele deve seguir viagem logo!

 O  Sêo Atílio, no momento  tinha pouco recurso ali em Coité, em moeda metal, mas o cofre estava cheio de papel moeda. A maioria do seu capital, desde a época de seu pai, já falecido, era representado por certificados de depósitos do Banco do Brasil, com a declaração expressa que se tratava de deposito em  moeda de ouro!                                                

O  papel moeda que ninguém queria saber delas, ele as recebia. Nessa hora ficava com cara de coitado, de bonzinho. Na verdade  tinha um sistema para receber papel moeda, de aumentar  o seu ganho e transforma-las em ouro ! Mas que sistema era esse, perguntam-me os leitores? Vou desvenda-lo um pouco mais à frente. Esse Sêo Atílio, de besta só tinha a cara !                                                                                                    

Todos , até os menos favorecidos, queriam moedas metal, prata ou de ouro. Até as  de cobre já era olhada com restrições. Eram feias e ficavam esverdeadas com facilidade.

 Sêo Atílio  tomando coragem, foi falar com o Leontino.

Atílio: Leontino, vou ser sincero. Estive observando você fazer negócio com o Damião. Eu não sei por que ele quer tanta rapadura assim. Será que ele quer abrir algum negócio? Mas se não é para abrir algum negócio, eu fico  imaginando, se ele me comprasse estas rapaduras de mim eu já ia ganhar algum dinheirinho. Ele pagou em moeda ?

Leontino: Nada Atílio, será que o Damião tem moeda? Se tiver, deve ser algum patacão, carregado de azinhavre. Eu nunca vi moeda com o Damião. Eu só vejo cabra e cabrito. Pode ser que agora com esposa nova, talvez ela tenha alguma moeda. Mas é bom nem perguntar porque ela tem fama de valente !                                                                   

Pois é, recebi foi duas bandas de cabra, com bucho e fígado, frescos, para o meu almoço de amanhã. Assim partiremos depois de amanhã, bem cedinho, assim que o sol anunciar o dia.

Atílio :Pois é Leontino como está difícil  as coisas. Não chove há muito e além do mais com estas notícias que você nos deu, fome e bandidagem espalhado por aí e agora esta estória deste homem que se diz santo lá em Canudos. Será que o dito cujo vai fazer chover?

Leontino: Olha se fizer  cair chuva vai ser muito bom. O que eu sei é que, muitos dos que estão nas estradas, estão indo para lá. A promessa daquele, que diz ser santo, é que os que estiverem  por perto dele vai ser muito abençoado assim que a chuva chegar. A chuva vai ser em abundância, diz ele.

Atílio: ( já aliviado com a notícia de que o Leontino já estava indo embora, mas naquele momento teve outra ideia). Sabe Leontino, me ocorreu  propor um negócio para você. Eu compro toda a sua mercadoria com muito esforço ( Atílio era mestre em mentiras toda vez que se falava em dinheiro), até pegando dinheiro emprestado ( outra mentira), se você me der um desconto de 40%.

Leontino: Pensativo e coçando a cabeça. Se me pagar com moeda, nada de papel moeda, sem pedir prazo, ele até aceitaria, com um desconto de 20%  Assim não precisava continuar viagem e voltaria para casa, ou ainda ir para Canudos para ver de perto  este tal santo que promete muita chuva.. .

Bem, começou a falar muito devagar, medindo as palavras: Bem Atílio, 40% é muito desconto, mexe até no meu capital. Se falar em 20% eu aceito. Mas como você vai me pagar? .Já adianto que não quero papel moeda!


                                                  

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