29.12.14

COITÉ - CAPÍTULO XI

            



               O SABIDO E MAQUIAVÉLICO  ATÍLIO


Mas como o Sêo Atílio ficou tão sabido assim? Como apreendera a negociar e a apresentar várias faces, para provocar no oponente ou no pobre coitado à sua frente sentimento de dó, para com ele, mesmo quando aquele estava sendo passado para traz  (ah, como o Sêo Atílio é um homem bondoso!). Como?


Resposta: com o seu pai e este com seu avô. Além do mais aprimorara-se.  Com um treinamento diário, aprendera a ser mais esperto e mais sagaz. E a força misteriosa da hereditariedade, para o  malfeitos, encontrou nele um campo aberto e receptivo.

O papel-moeda naquela região  era rejeitado em virtude de estar  exposto ao suor do trabalhador, á sua mão suja de terra  no trabalho do seu sustento e até as mulheres muitas vezes os guardavam em contato com seu seio, isto é mais suor. Não se falando naquelas mamães cujo leite era abundante e sem noção de muita higiene., as guardavam no seio também.                                                                                                                                                                                                            
Assim o papel se deteriorava e muitas  vezes desbotava. Além do mais como esconder pequenas fortunas em papel moeda. Na rede não é possível, pois a maioria não possuía colchão. Enterrar dentro de um pote, só moeda mesmo. Assim criou-se uma mania, uma mística de que papel moeda não é bom negócio.  Mas os bancos eram obrigados a aceita-los por força da lei.

Quando um pobre coitado entrava no armazém do  Atílio e ele percebia que ia ser pago com papel moeda, ele afastava o  empregado que o estava atendendo, e passava a negociar.

Oh...exclamava baixinho o  Atílio. Pegava o papel moeda, olhava bem devagar os dois lados, colocava-o em cima do balcão e com as mãos cruzadas como se fosse rezar, inclinava o corpo para a frente em direção ao infeliz; neste momento  abaixava as pálpebras e o rosto vestia-se de infelicidade e balançava a cabeça lentamente de um lado para o outro em sinal de negativo emitindo um chiado e falava baixinho: oh, meu amigo...papel moeda  tão sujo e desbotado...ninguém quer...mas eu posso receber...porque eu gosto muito de você...conheço muita a sua família...e sei que você está precisando muito desta mercadoria...

Neste momento ficava de novo ereto, mas não tão ereto assim, pois precisava dar a impressão de que era um velho coitado meio corcunda. O rosto vestia nova máscara...piedade...e encarava a vitima no aguardo da sua manifestação.

Infeliz: Tá bem Sêo Atílio, mas o que eu faço ? O senhor fica com este papel-moeda e eu dou um desconto nele.( A angustia estava estampada na face do pobre coitado).

Atílio: Eu vou ficar com ele só porque é você ( rosto de quase choro)...eu a aceito com valor pela metade... Eu vou acabando jogando ela fora!

Infeliz pensando: (Como o Sêo Atílio é bondoso ! ) Falava: Esta bem. Me dá logo a minha compra que já vou embora.                                                                                

Sim, a pressa em ir embora era medo do Sêo Atílio desistir daquela bondade

Brasília- Df, 29 de dezembro de 2014
Djalmir Bessa

Todas as 2a. e 5a. feiras novo capítulo

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