15.12.14

COITÉ- Capítulo VII- ENTRA EM CENA LEONTINO

                                                        Capítulo VII

                                   ENTRA EM CENA LEONTINO


 Em seguida, Creusantina e Damião,  passaram na fonte de agua que servia a toda a população  da vila. Ali estavam vários tropeiros descansando da sua longa viagem  que faziam constantemente entre as cidades de Feira de Santana e Jacobina.





Observaram que a fonte  de agua já não era mesma.  Perdera a força. Mas ainda brotava  do solo um respeitável  rego de agua . Não era mais aquilo que conheciam,  um generoso e borbulhante brotar de agua límpida e refrescante, que sustentava os habitantes da vila e que atraia os tropeiros no seu afã.

 Mas o  esplendoroso pé de coité estava lá a oferecer sua sombra contra a inclemência daquele sol causticante.

Para aqueles que não sabem, o pé de coité fornece uma fruta, que quando seca e tratada vira cabaça ou cuia quando serrada no meio. No pequeno sítio do Damião tinha alguns pés de coité.

Conversando com os tropeiros, Damião, ficou sabendo que estes, não retornariam mais  enquanto durasse a seca. Não poderiam executar o seu oficio se não chovesse!                                     




Era seca por todos os lados e as estradas e os caminhos já estavam cheios de flagelados,  andarilhos, maltrapilhos , homens, mulheres e crianças, sedentos e famintos atacavam os tropeiros na esperança de acharem agua ou qualquer alimento.                                      

Além do mais, os maus caráter, os que nasceram com a maldade no coração, já estavam se organizando em quadrilhas para praticarem assaltos, roubos, estupros e assassinatos .

Também,  continuou a informar, surgiu um homem, que se apresentava como um santo, numa vila de nome Canudos, com a promessa de que faria chover em abundância para aqueles que o acompanhassem.

Damião e Creusantina,  olharam entre si, e resolveram  continuar a conversa com o chefe dos tropeiros, de nome Leontino, conhecido de Damião há muito tempo, que comandava mais dois companheiros. Um desses era seu filho adotivo e sócio, o Braga, que nunca se casara e nem pensava nesse assunto. Mas era fiel e amigo sincero de Leontino                                                                               

A tropa era constituída de oito burros. Três destinados à montaria e o restante de cinco eram para carregarem  as cangalhas ,com as mercadorias acomodadas em grandes bolsas de couro.

Damião: Bem, Sêo  Leontino, o que é que o senhor leva ahí ?

Leontíno: Rapadura, farinha, jabá (nome dado ao charque), milho e um pouco de feijão.                        

Damião pensativo: A moeda de troca de Damião era cabra e cabritos. Ele tinha outros recursos, mas era um segredo, era uma herança com instruções que recebera de seu pai.  

Damião continuou a divagar : será que ele aceitaria aquela cabra velha que não paria mais e nem produzia mais leite, por um tanto de rapadura, outro tanto de farinha e algum feijão? 

Damião: quanto tempo o Leontino fica aqui ?

Leontino: Para ser exato Damião, acho que fico mais dois dias. Os burros precisam descansar  e nós também. Por que?

Damião: Estou precisando de vinte rapaduras( exagerou na quantidade) , um tanto de farinha, outro tantinho de feijão. Proponho dar em troca uma cabra abatida, com o bucho, o fígado tudo limpo amanhã. Em tempo para o seu almoço.

Leontino pensativo :seria até bom mudar o cardápio com uma carne fresca. Ele e os seus tropeiros já estavam meio enjoados de comer diariamente jabá.  Está bem, dez  rapaduras,  5 litros de farinha e tres litros de feijão. Concorda ?

Damião: Concordo, mas acrescenta mais duas rapaduras.

Leontino: Fechado. A sua mercadoria  você já pode levar hoje. Empresto um saco para o transporte

Brasília - DF, 15 de dezembro de 2014

Djalmir Bessa.


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