‘Estamos iniciando a Quaresma, período de
quarenta dias em que somos chamados a entrar no deserto da nossa vida, da nossa
existência com Jesus, sob a condução do Espírito Santo. Diante de Jesus e
seu projeto salvífico, somos chamados a olharmos para a nossa vida, a da
sociedade, a da educação de nossas crianças e respondermos à pergunta: quais as
grandes tentações do nosso tempo? O texto do Evangelho (Lc 4, 1-13) nos
ajuda neste exame de consciência quaresmal.
Jesus tinha se submetido ao rito batismal de João Batista e tinha sido ungido pelo Espírito (Lc 3, 21-22). O Evangelista sublinha grandemente este fato: “Jesus, pleno do Espírito Santo, voltou do Jordão; era conduzido pelo Espírito através do deserto durante quarenta dias, e tentado pelo diabo” (Lc 4, 1-2). O deserto rememorava a experiência de Israel que passou quarenta anos no deserto e foi tentado. O deserto é memória, faz-nos reviver o passado e, ao mesmo tempo, projeta-nos para o futuro, pois o Filho de Deus venceu o tentador no deserto e na cruz. Jesus, no deserto, superou as tentações e a Sua vitória tornou-se, para o cristão, certeza de que, conduzido pelo Espírito, nós podemos vencer também as tentações no deserto da vida e da história. A Quaresma deve ser este tempo forte de deixar-se conduzir pelo Espírito.
Jesus sofre três tentações, e nelas estão resumidas as
grandes possibilidades de tentação de cada ser humano. Jesus é tentado a um
messianismo fácil, a usar de seus poderes messiânicos em benefício próprio: “Se
és Filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão”. Seu messianismo é
para ser dom, Ele é o Messias servo, que deverá servir a ponto de doar a
própria vida. Jesus rebate o diabo mostrando que o homem não vive só do pão
material, das coisas materiais, que a referência última da vida de cada ser
humano deve ser a vontade de Deus.
Na segunda tentação, Jesus é tentado quanto ao poder: “… te
darei todo este poder com a glória destes reinos (…) se te prostrares diante de
mim…”. É a tentação do poder e da idolatria, adorando alguém que não é
Deus. A resposta de Jesus será: “Adorarás ao Senhor teu Deus, e só a ele
prestarás culto”. Tudo aquilo que colocamos no centro da nossa vida que não
seja Deus é idolatria, que pode ser dinheiro, ídolos, ideologias etc. A
idolatria é um perigo real na vida humana e na nossa sociedade.
A terceira tentação se coloca no plano do messianismo
espetaculoso. No pináculo do templo, Jesus é tentado a se atirar para baixo,
por que Deus mandará Seus anjos para segurá-lo. É a tentação ao abuso de Deus,
de manipular Deus, de querer que Deus responda às nossas necessidades. Tanto
que a resposta de Jesus é: “Não tentarás o Senhor, teu Deus”.
Ao contemplarmos o Salvador tentado, o ser humano entende
que a tentação faz parte da vida humana, do caminho de fé, mas que o Salvador,
Jesus Cristo, venceu o tentador e nos deu a possibilidade de vivermos na
amizade de Deus e seguirmos o projeto de Deus. Que conduzidos pelo Espírito de
Deus, vençamos as tentações, também aquela de uma educação parcial, que não
leva em conta a grandeza do mistério da pessoa humana, criada à imagem e
semelhança de Deus.’
PALAVRA DO
PASTOR
TENTAÇÃO DE JESUS, TENTAÇÃO DO DISCÍPULO
Dom Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília – DF.
Em, 06 de março de
2022
Ana Pinto de Miranda Bessa
À serviço
do Senhor!
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