'São Lucas nos apresenta, neste quarto domingo comum, a rejeição que Jesus sofre, na vila de Nazaré, onde tinha sido criado (Lc 4, 21-30). A atitude com relação a Ele vai da admiração por parte dos presentes na sinagoga (Lc 4, 20) até a atitude de rejeição, de endurecimento.
Jesus estava na sinagoga da sua vila. A primeira parte da
narrativa mostra a admiração que Jesus causa, na sinagoga, quando lê o profeta
Isaías. Ao término, “todos tinham os olhos fixos Nele” (Lc 4, 20). Porém, a
cena passa da admiração à rejeição. Jesus é o derradeiro profeta que participa da
sorte dos antigos profetas que, também, foram rejeitados: “Em verdade vos digo
que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria” (Lc 4, 24). Jesus cita, na
sinagoga da sua cidade, o exemplo de Elias e Eliseu, que não foram enviados à
casa de Israel, mas a estrangeiros: Elias a uma viúva, em Sarepta, na região da
Sidônia; e Eliseu purificou a Naamã, que era um sírio. Diante destas palavras,
todos na sinagoga se enfurecem e O conduzem a uma colina, com a intenção de
precipitá-Lo lá de cima.
O povo de Nazaré espera muito de Jesus, tenta quase
prendê-Lo. Todos estão ali ouvindo e procurando envolvê-Lo em suas
expectativas. São as expectativas que o quadro restrito de uma vila – um
pouco de trabalho, um pouco de comércio – podia oferecer. Lendo estas expectativas,
à luz da história da Igreja primitiva, pode-se entrever a ânsia de apoderar-se
do profeta, de fazer dele objeto de glória do povoado e, talvez, até de um
pouco de ganho material: no fundo, se começar a fazer alguns milagres, o povo
virá, e se vai ganhar algum dinheiro. Talvez haja um pouco de raiva, pois Ele
não começou os milagres ali, mas em Cafarnaum. “As coisas que fizeste em
Cafarnaum faze-o também em tua pátria” (v. 23). Jesus está sob a ameaça de uma
captura, de uma tentativa de adaptar o que Ele diz às expectativas, às
necessidades, para ter sucesso e, depois, ser rapidamente encaixado em toda
aquela pequena série de interesses que formam o tecido social da pequena
aldeia.
De outro lado, emerge a extrema liberdade de Jesus que, sem
se preocupar com o sucesso, com o que lhe poderia acontecer, com a má fama que
aquele primeiro encontro poderia espalhar pelos povoados vizinhos, sem se
preocupar com as pessoas que não irão mais procurá-Lo, fala livremente. Mais
ainda: parece até provocar as pessoas de Nazaré lembrando-lhes que existem
outros confins, outros horizontes, outros interesses do Reino de Deus muito
mais vastos.
“Ele, porém, passando pelo meio deles, prosseguia o seu
caminho” (Lc 4, 30). Jesus aparece aqui como o Evangelizador dotado de absoluta
liberdade de espírito. Esta liberdade Lhe dá uma estatura profética totalmente
fora daquela de um pequeno pregador de aldeia. Ele tem a estatura de quem
conduz a Si mesmo e Sua liberdade para o mundo, porque tem diante de si os
horizontes de Deus.
Esta absoluta liberdade de Jesus, o Filho de Deus, deve nos
questionar hoje: o seguimento a Jesus Cristo, o encontro com a Sua Palavra,
está nos tornando verdadeiramente livres?'
PALAVRA DO
PASTOR
A ABSOLUTA LIBERDADE DE JESUS
Dom Paulo Cezar
Costa
Arcebispo
Metropolitano de Brasília – DF.
Em, 30 de janeiro
de 2022
Ana Pinto de Miranda
Bessa
À serviço do Senhor!
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