'O texto do evangelho deste domingo (Mc 1, 7 – 9) nos relata
a missão de João Batista e o Batismo de Jesus, que vai ao Jordão e se submete
ao rito penitencial de João Batista. O texto apresenta alguns elementos
fundamentais: a abertura do céu, a descida do Espírito Santo, a água do Jordão
e a voz do céu.
O céu fechado simboliza a separação entre Deus e o homem,
e, então, o desaparecimento da atividade profética, pois o profetismo em Israel
já tinha cessado há muito tempo (Lm 2,9; Am 8,12; 1Mac 9,27). O abrir-se do céu
significa o início de um novo tempo de graça, de um novo relacionamento de Deus
com a humanidade. Os elementos deste novo relacionamento entre Deus e os homens
são os mesmos do início da humanidade: o espírito, a água e a palavra (Gn 1,2).
No livro de Josué (Jos 3, 14-17), a passagem do Jordão nos reenvia ao evento da
passagem do Mar Vermelho: o ingresso do povo na Terra Prometida relembra a
libertação operada por Deus no Êxodo. Nesta perspectiva, o ser batizado nas
águas do Jordão é um elemento fundamental para se ser inserido na comunidade
messiânica.
A voz celeste anuncia a missão deste “Filho”, que evoca aquela do servo de Isaías (Is 42,1). Este servo tem uma ligação particular: a de Filho para Pai. Ele é o Filho amado, aquele em quem o Pai coloca seu bem-querer.
Estamos diante de um relato de revelação messiânica, que se abre com este Filho, e que, mesmo sendo apresentado como o humilde “servo”, misturado com o pecado, tem um particular relacionamento com o Pai. Este relacionamento único e singular com o Pai será expresso principalmente com a expressão Abbá, que significa pai, paizinho. Esta expressão traduz a profunda intimidade entre Filho e Pai no ministério terreno de Jesus e não vivenciada por nenhum outro judeu da época. Inicia-se uma nova época de salvação, uma nova criação, uma nova libertação, o início de um novo povo de Deus.
São Mateus, no seu Evangelho, acrescenta o diálogo com João
Batista. Ele veio para cumprir toda a justiça (Mt 3,15). A justiça cumprida e a
salvação escatológica são a vitória sobre o mal, a purificação dos pecados que
Jesus veio trazer, derrotando, assim, definitivamente satanás e todas as suas
tentações (em Mateus e Marcos, o relato das tentações seguem imediatamente o
batismo). O batismo está estreitamente ligado à tentação de Jesus. A salvação
escatológica está ligada à vitória sobre satanás.
O batismo de João Batista era originariamente um ato de
penitência: os judeus batizados por João confessavam seus pecados. Jesus será o
servo de Isaías que assumirá os pecados do povo, será o filho que manifestará o
seu ser filho em dar a vida.
Assim, virá o Espírito, e haverá o início da nova criação.
O batismo de Jesus é o início de todo um caminho que terá o seu cumprimento na
Páscoa.
Que a celebração do Batismo de Senhor nos conscientize de
que, com o nosso batismo, também nós nos tornamos filhos adotivos de Deus, e
nos ajude a viver do amor do Pai. No filho Jesus Cristo, também nós somos os
filhos amados do Pai.'
PALAVRA DO PASTOR
O BATISMO DO SENHOR
Dom Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília - DF.
Em, 10 de janeiro de 2021
Ana Pinto de Miranda Bessa
À serviço do Senhor!
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