‘Inicialmente, a tradição bíblica reservou o título de
“Santo” somente a Deus. Mas em toda a história de Israel, Javé gosta de ser
chamado o Santo de Israel “Porque eu sou o Senhor teu Deus, o Santo de Israel,
o teu Salvador” (Is 43,3). A santidade de Deus suscita um santo temor. Contudo,
o Seu desígnio de salvação ao eleger Israel comportou o sonho de comunicar a
Sua santidade ao povo, o qual se torna um povo santo, diferente de todos os
povos, porque caminha na Sua presença.
No Novo Testamento as promessas messiânicas se cumprem. Pelo mistério da redenção e a comunicação do Espírito Santo, os discípulos passam a ser chamados “santos”, tal era a convicção de que a graça comunicada no batismo é a semente de santidade a que todos os povos são chamados.
A primeira Leitura (Ap7,2-4.9-14) nos apresenta “a multidão
imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém
podia contar”. O sinal na fronte e as vestes cândidas são uma clara alusão ao
batismo pelo qual Deus imprime em nós a marca da Sua santidade, o selo de que
pertencemos a Cristo. A santidade humana nada mais é do que a maturação da
graça concedida no batismo. Os santos que a Igreja festeja hoje – não só os
canonizados – são aqueles que procuram “com o auxílio de Deus, manter e
aperfeiçoar, durante a vida, a santidade recebida no batismo” (Lumen gentium,
40). Para alcançar a glória, todos passam pela grande tribulação, passam pelo
mistério redentor da Cruz, associando-se à Paixão Redentora de Jesus Cristo,
nosso Senhor.
Na segunda Leitura o Apóstolo do amor nos ajuda a
compreender que a santidade comunicada pela graça de Deus se traduz em termos
de filiação: Deus nos quis filhos Seus: “Vede que grande presente de amor o Pai
nos deu: de sermos chamados filhos de Deus!”. E completa radiante: “E nós o
somos!” (I Jo 3,1). E vibra ainda mais ao falar da visão beatífica do rosto de
Jesus: “seremos semelhantes a Ele porque o veremos como Ele é” (v.2). Trata-se
da glória comunicada pelo fulgor infinito da Trindade Beatíssima.
No Evangelho de São Mateus, o próprio Jesus fala do céu que
deve começar na terra: as Bem-Aventuranças. A santidade já não é vista como no
Antigo Testamento como a separação, a absoluta alteridade… é a partir da vida
comum, das circunstâncias concretas da vida presente, especialmente as árduas e
dolorosas – como a perseguição por causa da fé –que vêm a ser remidas. O Papa
Francisco assim nos exorta a partir da última Bem-Aventurança: “«Alegrai-vos e
exultai » (Mt 5, 12), diz Jesus a quantos são perseguidos ou
humilhados por causa d’Ele. O Senhor pede tudo e, em troca, oferece a vida
verdadeira, a felicidade para a qual fomos criados. Quer-nos santos e espera
que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa” (Gaudete
et exsultate, n.1). É muito estimulante e consolador comentário que a partir do
n. 63 o Santo Padre faz das Bem-Aventuranças após falar dos obstáculos à santidade.
O louvor que a Igreja hoje eleva à santidade de Deus
manifestada na vida dos Seus santos, refulge na Virgem Maria e nos impele a
participar dessa grande aventura do amor de Deus por nós.’
ALEGRAI-VOS
E EXULTAI…
Dom José
Aparecido Gonçalves de Almeida
Bispo
Auxiliar de Brasília – DF.
Em, 1º de novembro de 2020
Ana Pinto de Miranda Bessa
À serviço do
Senhor!
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