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Palavra de Deus, no Evangelho deste domingo, coloca diante de nós a questão da
exterioridade e da interioridade do ser humano. Vive-se, hoje, numa cultura da
exterioridade, a que valoriza a corporeidade, a aparência etc. Esta questão
estava também no centro da vida religiosa do tempo de Jesus. Os fariseus e
mestres da Lei estão preocupados com a exterioridade: lavar mãos, lavar
objetos, banhar-se etc. Eram preceitos importantes, que nós chamaríamos regras
de boa educação, e estavam no centro da discussão religiosa.
Jesus, no Evangelho deste domingo (Mc 7,1-8.14-15.21-23) e em outros momentos, aponta para a realidade central da vida humana: a interioridade. Os fariseus e mestres da Lei estavam preocupados com os preceitos exteriores, mas Jesus remete para a interioridade: “Escutai todos e compreendei: o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior”. O ensinamento de Jesus, aqui, é claro e fácil de ser compreendido. O puro e impuro não deve ser procurado fora do ser humano, nas coisas exteriores, mas dentro do homem, na interioridade, no coração. Coração entendido no sentido semita, como princípio do agir humano, como princípio das nossas ações. A interioridade deve ser entendida como a forma de pensar, de conceber aquelas ideias que estão lá dentro de nós e que norteiam a nossa vida, as nossas decisões.
O Evangelho remete para aquilo que chamamos de consciência,
para a necessidade da formação da consciência, para a interioridade da pessoa
humana. O Catecismo da Igreja Católica, nº 1776 diz: “Na intimidade da
consciência, o homem descobre uma lei. Ele não a dá a si mesmo, mas a ela deve
obedecer. Chamando-o sempre a amar e fazer o bem e a evitar o mal, no momento
oportuno a voz desta lei ressoa no íntimo de seu coração … É uma lei inscrita
por Deus no coração do homem”.
Jesus afirma que o mal não está no que entra na pessoa
humana, mas naquilo que vem da sua interioridade: “Pois é de dentro do coração
humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios,
adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja,
calúnia, orgulho, falta de juízo” (Mc 7,21-22). As ações más, antes de serem
praticadas, são concebidas na nossa interioridade, no nosso coração. É preciso
formar a interioridade. Sem a formação da interioridade, da consciência, tem-se
cada vez mais um ser humano que vai perdendo os referenciais éticos e morais da
vida. A formação da consciência é um processo que se inicia na família, que tem
um papel fundamental e irrenunciável, pois é de pequeno que o ser humano vai
aprendendo a conceber o bem, os valores e vai evitar o mal. Todas as instâncias
da sociedade possuem um papel fundamental neste processo educativo. Papa
Francisco, citando um provérbio africano, diz que “é preciso toda uma aldeia
para educar uma criança”. Todos são agentes na formação da consciência:
família, igrejas, escolas, meios de comunicação etc. O grande perigo da vida de
uma sociedade torna-se o ir perdendo os referencias éticos e morais, caindo
numa cultura niilista, do nada. Quando se vai renunciando aos princípios
éticos, na vida de uma sociedade, corre-se o risco ir-se minando as condições
da vida social. Que esta palavra de Deus nos ajude a termos uma medida alta da
vida, dos processos e instrumentos de formação da consciência moral e da vida
em sociedade.'
PALAVRA DO
PASTOR
A INTERIORIDADE DO SER HUMANO
Dom Paulo
Cezar Costa
Arcebispo de
Brasília – DF.
Em, 29 de agosto
de 2021
Ana Pinto de
Miranda Bessa
À serviço do
Senhor!
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