' A primeira leitura da liturgia deste domingo colocou diante de nós a experiência do Povo de Deus no deserto. O Povo murmura contra Moisés e Aarão: “Por que nos trouxeste a este deserto para matar de fome a toda esta gente?” O deserto é o descampado, o árido onde o homem sente a falta de tudo. É onde o homem se vê diante da sua solidão, onde a fragilidade da vida se manifesta, onde o ser humano se volta para o essencial. O Povo de Deus se viu privado de tudo, até do pão que é essencial à vida. É no deserto que nos encontramos com a nossa fragilidade, pois não podemos suprir a nós mesmos, devemos esperar por tudo. Nesta condição de essencialidade, o homem aprende que não é Deus, mas somente homem. O deserto relembra a precariedade da vida, a nossa condição de indigente. “No deserto, o homem se revela e se revela a si mesmo, manifestando o seu eu …” (M. Grilli, In Ascolto della Voce, 185). O deserto é uma imagem que serve para designar a nossa cultura e, principalmente, este tempo difícil de pandemia que estamos vivendo. Esta imagem revela à nossa opulência aquilo que é essencial à vida humana. No deserto, foi Deus quem nutriu o seu povo com o maná, para fazer Israel entender que “não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Dt 8, 3).
O Evangelho inicia com a multidão que procura Jesus e Ele
vai dizer que O estão procurando não pelos sinais, mas porque comeram pão e
ficaram saciados (Jo 6, 26). Procurar é um verbo essencial no evangelho de são
João. Os judeus não estão procurando Jesus por aquilo que Ele é, mas
permaneceram na superfície, no alimento físico, que alimenta somente a fome do
corpo. Não perceberam o verdadeiro sentido do sinal que Jesus tinha realizado.
Os sinais, isto é, os milagres querem conduzir à experiência da fé, querem
conduzir à fé em Jesus Cristo. Jesus vai, neste discurso, conduzindo
progressivamente os ouvintes à fé nEle. A multiplicação dos pães quer conduzir
à percepção de que Ele é o verdadeiro pão da vida. Vida, aqui, não é somente
vida biológica, “é um conceito que abrange a salvação, que contém em si tudo o
que o Redentor enviado por Deus ao mundo traz aos homens” (F. Mussner). Há,
agora, no meio dos homens, alguém que pode dar vida. O ser humano foi criado
para ter vida eterna. Ele traz em si, inscrito no seu ser, esta tensão para o
infinito de Deus. O ser humano, no seu estar na existência, se manifesta como
um ser vocacionado ao infinito. Só o ser humano é capaz de refletir sobre
a existência, só ele é autoconsciente de si, só ele se auto transcende rumo ao
outro e rumo ao totalmente Outro, Deus. À precariedade da vida humana, Jesus
mostra que a Sua vida, vindo ao encontro da nossa vida, dá a nós a vida eterna.
Jesus é o verdadeiro pão do céu, Ele é o pão da vida. Que a precariedade da
vida que estamos experimentando, neste tempo de pandemia, nos ajude a
ancorarmos a nossa existência no absoluto de Jesus Cristo, Pão da Vida: “Eu sou
o Pão da Vida.” (Jo 6, 35)'
PALAVRA DO PASTOR
EU SOU O PÃO DA VIDA
Dom Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília – DF.
Em, 1º de agosto de 2021
Ana Pinto de Miranda Bessa
À serviço do
Senhor!
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