'A Palavra de Deus, deste domingo, mostra-nos a vocação para sermos servidores. Na primeira leitura, tem-se a imagem do servo sofredor de Isaías – Is 53,2-3.10-11. Na segunda leitura, o sacerdote que se compadece das nossas enfermidades – Hb 4,14-16. No Evangelho, o evangelho revela Jesus Cristo, o servo que “veio para servir e dar a sua vida como resgate por muitos” – Mc 1,35-45.
Eis a palavra de Deus colocando diante de nós a vocação
para o serviço. Servir pode parecer uma coisa humilhante – talvez tenhamos na
memória páginas da história que nunca mais podem ser repetidas, onde o ser
humano escravizou o outro ser humano.
Isto é indigno do humano: ser humano escravizando outro ser humano por
sua cor da pele, raça etc. Todos somos iguais e irmãos entre nós, independente
da cor, raça, condição social etc. E o Evangelho vai, então, numa outra
direção, mostrando-nos que servir não humilha a pessoa humana, mas a coloca no
plano da verdadeira liberdade. Somente quem é livre consegue servir. Os
discípulos Tiago e João, filhos de Zebedeu, querem poder, prestígio e então
pedem a Jesus: “Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda quando
estiveres na tua glória!” – Mc 10,37. A pergunta de Jesus, para os dois, talvez
os desconserte e vai na direção de “beber do mesmo cálice” e “ser batizado” com
o mesmo batismo que Ele. Essas duas metáforas colocam os discípulos na
autêntica compreensão do Reino de Deus e na paradoxal lógica da sua
participação: seguir Jesus significa trilhar um caminho que passa pelo
sofrimento e pela morte. – M. GRILLI, In Ascolto della Voce, 239.
A atitude dos outros discípulos é aquela de indignação com
os dois. Mas Jesus mostra que a lógica da vida do discípulo deve ser outra. Não
é a lógica dos chefes das nações que oprimem e tiranizam, ou seja, não pode ser
a lógica do poder do mundo. Entre os discípulos de Jesus Cristo, o poder é
serviço: “...quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos. Pois o Filho
do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate
por muitos” – Mc 10,44-45. A missão de Jesus foi interpretada como serviço na
sua forma radical e fundamental de sacrifício da vida em favor de muitos. A
forma extrema do serviço de Jesus, Sua morte de cruz, vem indicada como caminho
para os discípulos de Jesus. Jesus serviu, doando a vida, fazendo da Sua vida
um dom de amor pela nossa salvação. Este é o caminho do discípulo de Jesus.
Esta Palavra de Deus quer nos ajudar a viver o poder como
serviço, não como autoritarismo. O poder no serviço não implica renúncia ao
poder. Basta olharmos a própria autoridade de Jesus. Não existe sociedade sem o
exercício do poder. Ele sempre existirá e deverá ser exercido na vida da
sociedade e da Igreja. Nossa geração lutou contra o Estado autoritário, viveu a
crise do país, talvez como reação a formas de poder autoritário. A maturidade
de vida implica um caminho de reconciliação com o poder. Os que o exercem devem
ter sempre diante de si “o poder-serviço”, que não oprime a pessoa, mas que a
dignifica e a engrandece.’
PALAVRA O PASTOR
O PODER SERVIÇO
Dom Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília – DF.
Em, 17 de outubro de
2021
Ana Pinto de Miranda Bessa
À serviço do
Senhor!
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