‘A Liturgia da Palavra ressalta a figura de duas mulheres que eram viúvas. Naquele tempo, as viúvas, juntamente com os órfãos, estavam entre as pessoas mais pobres e indefesas da sociedade. Contudo, ambas se tornaram exemplos de fé em Deus, de partilha, de desapego e de generosidade. A viúva de Sarepta repartiu com o profeta Elias o pouco alimento que tinha, agua e pão, numa época marcada pela seca e a fome. A “pobre viúva” mencionada no Evangelho ofereceu duas moedas de pouco valor, mas “ na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”, enquanto “todos deram do que tinham de sobra”. Ao agir, assim, ambas testemunham a fé em Deus, a confiança no Senhor que ampara a viúva e o órfão, conforme o Salmo 145, hoje rezado. Através dos Salmos, o povo manifesta a confiança na misericórdia divina para com os “oprimidos, famintos, cativos, cegos, estrangeiros, a viúva e o órfão” (Sl 145), isto é, para com os mais pobres e sofredores, considerando-se o contexto social daquele tempo. Somente quem põe em Deus a sua fé e segurança será capaz de partilhar os próprios bens, aquilo que considera importante, e não apenas o que sobra ou que pouco vale para si.
Entretanto, iluminados pela Carta aos Hebreus, podemos afirmar que a oferta maior não é aquela que nós oferecemos a Deus. A máxima oferenda foi ele quem nos deu, a doação da vida de Cristo na cruz, para nos salvar. Ele nos amou primeiro e por nós se ofertou. Nós também somos chamados a ofertar não apenas bens materiais, mas a nossa vida, através de gestos concretos de caridade e misericórdia, de atenção fraterna e de serviço generoso. É preciso dispor-se a gastar o próprio tempo e os talentos recebidos em favor dos irmãos.
Infelizmente, vivemos numa época marcada pela busca exagerada de adquirir e consumir bens materiais. Muitos colocam a sua segurança e felicidade numa busca desenfreada por dinheiro. Outros vivem em função do desejo insaciável de bens de consumo, muitas vezes, caros e supérfluos. A acumulação e o consumo de bens materiais dominam a vida de muita gente, como verdadeiros ídolos, pois acabam ocupando o lugar de Deus. Quando isso ocorre, não há lugar para ofertar a própria vida ou os próprios bens a Deus e aos irmãos.
A viúva de Sarepta e a viúva do templo de Jerusalém continuam a nos interpelar. Somos chamados a viver na generosidade e na partilha, no desapego dos bens e na simplicidade, colocando em Deus a nossa confiança. A oferta redentora de Jesus na cruz continua a nos sustentar. Graças a ele, podemos também hoje ofertar o que somos e o que temos em favor dos irmãos, de modo particular, dos mais necessitados.’
A PALAVRA DO PASTOR
Dom Sergio da Rocha
Arcebispo de Brasília- DF.
Em, 08 de novembro de 2015
Ana Miranda Bessa
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