COITÉ - Capítulo XIV

                                                             Capítulo XIV

                                 CRUSANTINA E DAMIÃO FAZEM PLANOS-2

Amada minha, está tudo bem? Já que vamos casar e eu estou muito feliz com o nosso casamento, tenho um segredo para revelar!

Creusantina sem dar muita atenção para aquela afirmação “tenho um segredo para revelar”, perguntou:

Damião, para que tanta rapadura que você comprou?

Damião: Bem, temos que aproveitar as oportunidades. A cabra velha já estava passando da hora de ser abatida e nos estávamos precisando reforçar o nosso estoque de comida. Faço isso com dor no coração. Mas é a regra da vida.  A quantidade de rapadura que solicitei foi exagerado, mas funcionou. Também estou tendo umas ideias .Quer escutar?

Creusantina; Quero, claro que quero. Mas primeiro o segredo.

Damião: Bem, fique calma e não se assuste, porque o que vou revelar não se refere a nenhuma grande fortuna, não. Meu pai, recebeu do meu avô  algumas moedas de ouro...

Creusantina assustada : O que , moedas de ouro! Isso é verdade ? Moedas de ouro...para dizer a verdade eu nunca vi uma moeda de ouro ! Já vi bastante de prata, até tenho algumas e outro tantinho de pataca diversas.

Damião: Isso minha querida, era dos tempos em que o regime das chuvas funcionava. Havia certa abundancia de tudo. Era mais fácil viver e ganhar algum dinheiro. Assim meu avô conseguiu juntar alguma coisinha que meu pai acrescentou com muita dificuldade e suor.

Agora a recomendação do meu avô e do meu pai era não usar esse ouro com facilidade.Devia fazer de um tudo para mante-lo em segredo. Usasse cabras e cabritos para trocar por outros  alimentos em época de dificuldade. E o que faço até hoje!                                                                                                            

 






                                                                     Sitio na região de COITÉ quando chove

Creusantina: Então o que vamos fazer com esse ouro? Eu queria ver. Quantas moedas são?

Damião: Calma, calma querida. Eu vou lhe mostrar. Esse ouro faz parte das ideias que estou tendo. Quer saber das ideias? 

Creusantína: Sim, sim. Pode falar, estou curiosa com tudo.

Damião: Querida é o seguinte: tenho matutado sobre a nossa vida aqui em Coitè. Com essa seca toda e com tanto trabalho só para irmos sobrevivendo, sem muita esperança com o nosso futuro. A vida de nossos pais foi um sofrimento sem fim pra nos criar, a você, a mim e as nossos irmãos e irmãs.                                                                             

 Os nossos irmãos tomaram rumo na vida. As minhas duas irmãs casaram e foram com seus maridos para o Ceará, um tal de Cariri e nunca mais deram notícias. Os seus irmãos a mesma coisa, foram para o sul e por lá ficaram.

Creusantina: ( agora pensativa e meio triste com a realidade da vida deles) É isso mesmo Damião. Mas o que podemos fazer para sair desta situação?

Damião: O que devemos fazer ? Tantas ideias tem me ocorrido....Ficar aqui, não adianta. Esta situação que vivemos não vai mudar. Estou pensando seriamente em ir embora. Mas para onde? Sempre tive vontade  de ir em direção ao mar. Tem Salvador, mas é uma cidade grande e muitos que foram para a cidade grande, com pouco recurso, fiquei sabendo, sofrem mais do que aqui, onde somos donos da nossa vontade !

Creusantina: Sabe Damião, esse negócio de mar, soube pela professora Romana, que é agua salgada que não serve para beber nem cozinhar. Tem peixe, até grandes, mas se não tem agua doce perto e fácil não adianta nada.

Damião; Podemos ir também em direção ao rio São Francisco, mas lá para cima em direção a Minas Gerais. Por lá, já me disseram, que tem umas vilas boas de morar. Tem agua em abundancia ,peixe a vontade e muita terra sem dono. É só cercar , construir sua casinha e criar cabras ou até gado. Para isso o nosso ouro, que não é muito, vai ajudar bastante. Bendito o meu falecido Avô e meu falecido Pai .Deus os tenham em sua Gloria !  

Creusantina: Pois é Damião. E essa estória desse homem que se diz santo e promete muita chuva e agua bastante  nessa vila de nome Canudos, Se é verdade o que ele diz, nada melhor do que ter umas terras perto dessa tal Canudos. Você sabe se lá tem rio?

Damião: Não sei Creuzantina.  Mas vamos olhar os mapas que a Professora Romana tem para tirar as nossas  dúvidas. Mas tudo isso que estamos falando, não convêm que ninguèm saiba .Pois a primeira coisa que devemos fazer é vender nossas cabras e cabritos. Mas vender para quem ?

Creuzantina: Pois é Damião vender para quem ? Bem, agora vamos ver a nossa fortuna !

Brasília, Df- 8 de janeiro de 2015

                     Djalmir Bessa  

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